Eliane de Oliveira Ferreira – Professora Associada do Departamento de Microbiologia Médica – IMPG – UFRJ
Bruno Penna – Departamento De Microbiologia e Parasitologia, Instituto Biomédico, UFF
Edwin Yates – Departamento de Bioquímica e Biologia de Sistemas, Universidade de Liverpool, Reino Unido
Clostridioides difficile (antigo Clostridium difficile) é uma bactéria anaeróbia e o agente causador da diarreia e da colite (inflamação no cólon) associada ao uso de antibióticos. Para que a doença seja estabelecida, o indivíduo deve ser contaminado com uma estrutura celular bastante resistente, encontrada principalmente no ambiente hospitalar, os endoesporos. A contaminação com os endoesporos e o uso de antibóticos para tratamento de outras doenças, podem levar ao desequilíbrio da microbiota intestinal. A idade avançada (> 65 anos), o uso de imunossupressores e o tempo de internação do paciente no hospital, também são fatores primordiais para que o processo infeccioso causado por C. difficile ocorra. A COVID-19 (SARS-CoV-2) é o agente causador da síndrome respiratória aguda grave. O grupo de maior risco e com maior taxa de mortalidade são os idosos, pacientes imunocomprometidos e diabéticos. Quando internados, estes pacientes fazem uso de diversos medicamentos (antibióticos e imunossupressores) que tratam os sintomas da doença e que também diminuam a progressão da doença para a forma mais grave da doença. Aqueles que progridem para forma grave precisam ser internados, muitas vezes por um longo período, nas unidades de terapia intensiva (UTI) para serem monitorados. Pelo fato das características para o desenvolvimento da colite causada pelo C. difficile serem muito similares àqueles da Covid-19 é que nós resolvemos alertar a comunidade científica e os médicos sobre um possível aumento no número de casos das infecções causadas pelo C. difficile (CDI). O título do trabalho recentemente publicado na revista científica Frontiers in Microbiology se chama "Devemos nos preocupar com o Clostridoides difficile durante a pandemia do SARS-CoV-2?". Neste artigo os autores tentam alertar e explicar como a pandemia do COVID-19 e o uso excessivo de medicamentos podem influenciar e, talvez levar ao aumento do número de casos da CDI.
Clarisa Beatriz Palatnik de Sousa – Professora Titular do Departamento de Microbiologia Geral – IMPG – UFRJ
Neste artigo de opinião reviso todas as iniciativas de desenvolvimento de vacinas contra COVID-19 até agosto de 2020. Atualmente existem 201 vacinas das quais 45 estão em testes clínicos e 156 em testes em animais. Isto é diferente do que ocorreu em outras pandemias humanas contra as quais se desenvolveu apenas uma única vacina. O controle dessas doenças como varíola, raiva, poliomielite, difteria, febre amarela, tétano, coqueluche, etc., se logrou através do uso sistemático dessas vacinas únicas no mundo todo. Em contraste, as iniciativas atuais são múltiplas e envolvem algumas tecnologias que, por exemplo, não resultaram em vacinas licenciadas até agora. Comparo os resultados de eficácia obtidos em macacos, já que estes permitem predizer o possível sucesso em humanos. Apenas duas vacinas de vírus total inativado e uma vacina de adenovírus recombinante não replicante revelaram resultados dos seus ensaios em macacos. As vacinas de vírus total inativado foram testadas em mais animais e não podem provocar a doença, porque contém o germe morto e fixado. Elas geraram resposta imune e não geraram doença provocada por anticorpos. As vacinas inativadas impedem a infecção nos macacos e a sintomatologia bem como não deixam o vírus presente no nariz, faringe e pulmões. Desta forma elas protegem contra a infecção, doença e contágio permitindo a interrupção da epidemia. Em contraste, as vacina clonadas em adenovírus expressam apenas a proteína S2 do coronavírus, foram testadas em poucos animais e deixam os vírus presentes no pulmão e nasofaringe. Desta forma elas protegem contra a severidade da pneumonia, mas não impedem o contágio nem interrompem a epidemia.
Marta Helena Branquinha & André Luis Souza dos Santos – Professores Titulares do Departamento de Microbiologia Geral – IMPG – UFRJ
Gabriela Seabra, Roberta Ferreira Ventura Mendes, Luiz Felipe Vieira dos Santos Amorim, Ingrid Vianez Peregrino & Ana Paula Ferreira Nunes – Departamento de Microbiologia, UFES
Diversas estratégias para o tratamento da COVID-19 vêm sendo estudadas por cientistas em todo o mundo, incluindo o reposicionamento de medicamentos já utilizados na clínica médica para tratar outras patologias. Um dos principais medicamentos estudados é a azitromicina, um antibiótico utilizado para tratar infecções bacterianas respiratórias e genitais, que apresenta propriedades antivirais e capacidade de modular o sistema imune; fatos que são aparentemente promissores e requeridos para o tratamento da COVID-19. Entretanto, ainda são necessários mais estudos clínicos para avaliar os possíveis benefícios, segurança e eficácia do uso de azitromicina em pacientes com COVID-19, assim como o estágio ideal de uso, a dosagem e o efeito da combinação desse antibiótico com outros medicamentos. Também é importante considerar que algumas propriedades farmacológicas da azitromicina podem favorecer o aumento de bactérias resistentes a antibióticos, incluindo espécies causadoras de infecções respiratórias comumente encontradas em ambientes hospitalares. Portanto, se a azitromicina não apresentar um papel significativo no tratamento da COVID-19, evitar seu uso reduziria o consumo desnecessário de antibióticos, reduzindo a consequente emergência de microrganismos resistentes, como as “superbactérias”. Se você quiser saber mais sobre os possíveis mecanismos de ação da azitromicina em pacientes com COVID-19, sobre as taxas e mecanismos de resistência a esse antibiótico e/ou sobre as propriedades farmacológicas da azitromicina relacionadas ao aumento da resistência bacteriana, confira o nosso artigo na íntegra.
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