Em 1920, a hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, foi criada a partir da incorporação das primeiras escolas de Ensino Superior do país, as quais foram criadas após o desembarque da Família Real Portuguesa em 1808, a saber: Escola de Anatomia e Cirurgia, que deu origem ao ensino de medicina no Rio de Janeiro, a Academia Real Militar (atual Escola Politécnica da UFRJ), a Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais e, posteriormente, a Faculdade Livre de Direito da Capital Federal, sendo estas duas reunidas para formar a atual Faculdade de Direito da UFRJ, sendo denominada, à época, Universidade do Rio de Janeiro. Em 1931, o então Ministro da Educação, Dr. Francisco Campos, empreendeu uma reforma que reorganizou a Universidade do Rio de Janeiro, agregando novas unidades à Instituição e, em 1937, o Ministro da Educação Gustavo Capanema reorganizou a Universidade, agregando novas unidades isoladas e renomeando-a como Universidade do Brasil (UB).
À época, a UB se dedicava quase que exclusivamente em ministrar, com excelência e eficiência, seus programas de ensino de graduação. No entanto, a pesquisa científica, já em pleno fervor em muitas partes do mundo e mesmo em instituições nacionais relevantes como o então Instituto Oswaldo Cruz, não era realizada de forma institucional na UB. Havia uma dissociação entre o Ensino e Pesquisa, como se fossem atividades não complementares. Essa atividade tão essencial, de produção do saber, começaria a partir de 1946 em várias unidades da UB, tais como o Instituto de Microbiologia (IM) com o Professor Paulo de Góes, o Instituto de Biofísica com o Professor Carlos Chagas, e nos cursos de Matemática e Geografia Humana com os Professores Maurício Mattos Peixoto e Josué de Castro, respectivamente.
Em 1950, a UB, que era uma jovem senhora de apenas 30 anos, produziu um fruto muito especial: Paulo de Góes, oriundo do curso de Medicina da UFRJ; médico, professor e pesquisador sonhador, visionário, discípulo de Bruno Lobo que, assim como o velho mestre, era um apaixonado pela Microbiologia e que tinha, como um dos seus muitos ideais, formar recursos humanos de alta qualificação através do ensino e da pesquisa, mas em um espaço integrado onde as várias vertentes, ligadas ou afins à Microbiologia, pudessem conviver harmonicamente e a ciência permeasse o ensino de forma permanente. Assim, nascia o Instituto de Microbiologia Médica, pelas mãos e prestígio de Paulo de Góes e com o apoio do reitor, à época, Pedro Calmon, a partir do Laboratório de Microbiologia da antiga Faculdade Nacional de Farmácia da UB, atendendo também aos alunos da Escola de Enfermagem Ana Néri e que depois, em 1955, incorporaria também a cátedra e o Laboratório de Microbiologia da Faculdade de Medicina. Tornou-se tão grande a pujança desta associação que ainda no mesmo ano o Conselho Universitário da UB formalizou, sob o nome de Instituto de Microbiologia Médica, o ensino e a pesquisa da Microbiologia na então UB. O local disponível no campus da Praia Vermelha, que pudesse receber um Instituto com diversos laboratórios, além das estruturas básicas como anfiteatro e biblioteca, foi o antigo refeitório das mulheres do Hospício Pedro II, que funcionava no prédio posteriormente cedido à UB, o Palácio Universitário. Posteriormente, o Instituto passaria a se chamar somente Instituto de Microbiologia (IM).
Nesse momento histórico, constituiu-se uma Unidade Acadêmica na UB, o IM. Em uma época em que a pesquisa era ainda incipiente no meio universitário, já em 1951, o irrequieto Diretor do IM criou o Curso de Especialização em Microbiologia (CEM), com duração de um ano em período de tempo integral, que se tornou referência nacional e também sul-americana. Posteriormente, o CEM foi dividido e realizado em dois momentos, primeiro em um estágio probatório, denominado Curso e Atualização em Métodos de Microbiologia e Imunologia (CARMMI) e, em seguida, o CEM que passou a ser chamado de Curso de Especialização em Microbiologia e Imunologia (CEMI). Cabe lembrar que, também em 1951, foram criados em nível federal duas organizações extremamente importantes para o futuro da Pós-Graduação e da Pesquisa no país: a CAPES e o CNPq. Naquela época, havia uma grande dificuldade no recrutamento de pessoal e a sua formação para o ensino e pesquisa, mas era claro para o IM que a capacitação científica era a primeira etapa a ser encarada em qualquer plano de desenvolvimento da ciência e a essa orientação, tudo era subordinado. Assim, alunos dos últimos períodos das graduações eram atraídos para trabalhos em laboratórios e aqueles que revelavam qualidade para o trabalho científico, eram lhes concedidas bolsas de estudo e iniciada uma preparação sistemática, algo que conhecemos hoje como iniciação científica. É fantástico ressaltar que falamos de fatos ocorridos há 70 anos e que se revelam tão importantes e fundamentais ainda em nossos dias. Após a formatura, os jovens profissionais eram encaminhados para o Curso de Especialização e, posteriormente, até para o exterior para aperfeiçoamento em centros de pesquisa de renome internacional. Era uma época difícil, pois a cultura da pós-graduação (mestrado e doutorado) era ainda incipiente em nosso país.
No entanto, o “pensar a frente do seu tempo” de Paulo de Góes o levou a instalar em 1962, meses após a UB aprovar o projeto de implementação de cursos de pós-graduação stricto sensu, o Curso de Doutorado em Microbiologia o que, de imediato, permitiu que vários especialistas já formados pelo IM prosseguissem em seus estudos. Posteriormente, em 1966, foi criado o curso de Mestrado do IM. De forma pioneira, o IM criou primeiro o seu curso de Doutorado e depois o de Mestrado. Assim, apesar dos trâmites burocráticos de reconhecimento do Curso de Doutorado terem sido aprovados em 1965 (por isso comemoramos 55 anos em 2020), poderíamos, na realidade, comemorar 58 anos de existência. Em 1965, a UB passa a ser denominada de Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nessa fase pioneira e de alicerces, faz-se necessário um tributo especial aos mestres que tanto contribuíram para implantar a cultura da pesquisa como ente necessário e fundamental para que a produção e a transmissão do saber de alto nível pudessem ocorrer livremente. Nesse tocante, o PPG-MICRO agradece aos pioneiros professores: Manoel Bruno Lobo, Raimundo Diogo Machado e João Ciribelli Guimarães da, à época, Divisão de Vírus do IM, Amadeu Cury, Luiz Rodolfo Travassos, Fernando Steele da Cruz, Isaac Roitman, Rudolf L. Hausmann, Elisa Penido de Almeida Magalhães e Celma Araújo da, à época, Divisão de Microbiologia Gera do IM, Moyses Fuks da, à época, Divisão de Imunologia e Ítalo Suassuna, Ivone Rocco Suassuna, Carlos Serpa e Wilson Chagas de Araújo da, à época, Divisão de Microbiologia Médica do IM. A primeira tese de doutorado do IM intitulada “Ação antimetabólica de colina e etionina em Candida slooffi” foi defendida pelo Prof. Luis Rodolfo Travassos, aluno desde 1963, sob a orientação do Prof. Amadeu Cury, em 7 de setembro de 1967. E o IM tinha pressa, pois logo no dia 20 de novembro de 1963, foi defendida a segunda tese de Doutorado pelo Prof. Isaac Roitmann, orientada pelo Prof. Travassos e intitulada “Fatores de temperatura em Candida slooffii”.
A primeira Dissertação de Mestrado foi defendida em 27 de junho de 1968, pelo estudante José Maria Casellas com a pesquisa “Contribuição ao estudo de bactérias Gram-negativas, aeróbias, produtoras de ácidos ônicos (grupo Lwofii-Clucidolytica)”, tendo como orientador também o Prof. Travassos. Quando, em 1970, o Ministério da Educação e Cultura implantou uma política nacional de Pós-Graduação, o IM abrigou, com muito orgulho, o PRIMEIRO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO PAÍS QUE FOI CREDENCIADO PELO CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO. Na ocasião, o Diretor do IM era o Prof. Amadeu Cury e o Prof. Paulo de Góes estava retornando de Washington (Estados Unidos da América) onde exerceu por vários anos o cargo de Adido Científico da Embaixada Brasileira junto ao governo americano. O ano de 1970 foi outro ano marcante para o país, para a UFRJ e para o IM: (i) para o país, pois fomos tricampeões mundiais de futebol, (i) para a UFRJ, porque estava em preparação à mudança de muitas unidades da Praia Vermelha para o novo campus, que estava em construção no conjunto de Ilhas que foram aterradas e anexadas à Ilha do Fundão e (iii) para o IM, porque fora transferido para uma casa nova. A mudança para o prédio do Centro de Ciências Médicas (hoje, Centro de Ciências da Saúde) na Ilha do Fundão ocorreu no segundo semestre de 1972 quando Paulo de Góes já era novamente Diretor do IM, cargo que ocuparia até 1976. Foi uma época difícil, pois a casa nova, com espaços ampliados exigia um forte investimento em equipamentos e materiais além, e principalmente, de pessoal qualificado. Afinal a ciência se desenvolvia rapidamente e não se poderia perder o momento certo de progredir. Nesse momento, a participação fundamental do Prof. Wilson Chagas de Araújo, primeiramente na Coordenação do PPG e, posteriormente, na Direção do IM, de 1974 a 1978, com o incentivo para o treinamento de vários docentes no exterior foi essencial.
Acompanhar a evolução do nosso Programa desde a década de 1970 é poder vivenciar o trabalho imensurável de muitas gerações de professores, servidores e estudantes na construção do que somos hoje – uma instituição que não só produz conhecimento, mas divulga e nucleia este conhecimento através da formação de profissionais, cientistas e professores em praticamente todas as regiões geográficas do Brasil e da América do Sul. De tal modo, o PPG-MICRO tem reconhecido e histórico papel disseminador da Microbiologia e Imunologia, uma vez que as lotações de docentes-pesquisadores, em grande parte das Universidades e Centros de Pesquisa do País, correspondem aos recursos humanos egressos dos seus cursos de Pós-Graduação. Todas essas atividades contaram, em diferentes momentos, com auxílios provenientes de agências de fomento nacionais, tais como: CAPES, CNPq, FAPERJ, FUJB, FINEP, FNS, Petrobras, Shell, Bayer, MCT (PRONEX), EMBRAPA, Ministério da Saúde, além de organizações internacionais, tais como WHO, OPAS, NIH, Mercado Comum Europeu, entre outros.
De forma interessante, o IM e o PPG-MICRO mostraram que a ordem dos fatores não altera o produto final, pois começamos pela Pós-Graduação “lato sensu” (Especialização), depois pela Pós-Graduação “stricto sensu” (Doutorado e, em seguida, o Mestrado) e somente anos depois, o IM se sentiu preparado, e foi de fato incentivado pela Reitoria à época, a uma nova empreitada: a criação do Curso de Graduação. Face ao intenso crescimento da informação científica e avaliando que a competitividade nas suas áreas de atuação seria amplamente acelerada com a formação de jovens pesquisadores, o IM criou, em 1993, o Curso de Bacharelado em Microbiologia e Imunologia com o objetivo de formar profissionais qualificados para atuar tanto em pesquisa quanto para atender as outras necessidades do mercado (setores industriais e ambientais, por exemplo). Em 1994, a primeira turma de graduandos iniciava seus estudos no IM, alegrava as instalações trazendo o frescor e o viço da juventude para os laboratórios e salas de aula. O resultado desta equação foi um só: a excelência explodiu.
E para não nos perdermos na acomodação, hoje o PPG-MICRO estimula fortemente a incorporação nos seus laboratórios dos Pós-Doutorandos, trazendo o refinamento e a complementação de pesquisas em nível avançado. A forte inserção social de nossos orientadores e estudantes foi o pano de fundo para um apoio e desenvolvimento de atividades de extensão, possibilitando a interação ciência-sociedade fundamental para o nosso país. E da década de 1970 para a década terminando em 2020 tudo mudou. O IM expandiu, ao longo dos anos, as suas linhas de pesquisa, de modo a permitir a absorção de seus melhores alunos de Pós-Graduação em seu corpo docente e a favorecer a presença de alunos de graduação nos seus diversos laboratórios para desenvolver trabalhos de iniciação científica. A ciência, as grandes descobertas, a comunicação científica transformaram o mundo da Microbiologia e das Ciências Biológicas como um todo, com enorme influência sobre a vida de seres humanos e animais, sobre o meio ambiente, sobre o próprio conceito de vida; enfim, passamos da ERA FENOTÍPICA para a ERA “OMICA”.
A contribuição do PPG-MICRO, ao longo dos últimos 55 anos, com a defesa de mais de 1400 Teses de Doutorado e Dissertações de Mestrado é impressionante e significa inserir milhares de egressos nas principais instituições de ensino e pesquisa públicas e privadas no país, realçando o papel disseminador fundamental do IMPG/PPG-MICRO para o desenvolvimento da Microbiologia e Imunologia no Brasil e em muitas instituições científicas espalhadas pelo mundo.
O IMPG e PPG-MICRO, desde suas criações, têm pautado suas trajetórias no trinômio ensino-pesquisa-extensão. Mais recentemente, a pesquisa tecnológica, voltada à inovação, foi incorporada, objetivando atender, mais diretamente, as demandas do desenvolvimento do país, bem como o incremento das atividades de extensão. Esta associação tem permitido à Instituição definir sua própria razão de ser como um centro cujo objetivo principal é “formar recursos humanos altamente qualificados, em nível de graduação e Pós-Graduação, fundamentada nos avanços científicos e dirigidos para as necessidades nacionais e mundiais". O PPG-MICRO tem sido referência nacional pela excelência de seu corpo docente, formado por pesquisadores reconhecidos pelos seus pares, tanto em nível nacional como internacional, resultando em elevado desempenho acadêmico de nossos alunos, os quais, devido à intensa característica de internacionalização de nosso Programa, possuem oportunidades de, durante suas atividades de doutoramento, realizar estágios em centros de pesquisa avançados no exterior, através do programa PrInt-CAPES e de outros tipos de fomento. Por todos esses atributos, nosso grupo de pesquisadores possui liderança científica reconhecida, sendo este Instituto tido como um dos mais importantes centros de investigação da América do Sul nas áreas de Microbiologia e Imunologia.