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Microscopia eletrônica de varredura mostrando os aspectos morfológicos do fungo C. neoformans, um dos agentes causadores da criptococose humana. Cortesia de Caroline L. Ramos, Mestra em Ciências pelo Instituto de Microbiologia da UFRJ (2011)Por Marcio L. Rodrigues - Prof. Associado, Instituto de Microbiologia da UFRJ

A incidência das infecções humanas causadas por fungos aumentou em mais de 200% nas duas últimas décadas. Dada a similaridade entre as estruturas celulares observadas em fungos e humanos, a terapia antifúngica é frequentemente associada a efeitos colaterais expressivos e baixa eficiência. Nesse contexto de alta complexidade, as taxas de morbidade e mortalidade em pacientes infectados por fungos patogênicos são consideradas como altas. Por exemplo, estimativas recentes mostram que cerca de um milhão de indivíduos por ano no planeta desenvolvem quadros de meningite causados por espécies do gênero Cryptococcus. A taxa de mortalidade nesses pacientes gira em torno de 65% em até três meses após a infecção. Na África, estima-se atualmente que morram mais pessoas acometidas de criptococose cerebral do que de tuberculose, por exemplo. [1]

Os estudos na área de Micologia Médica no Brasil mostram grande consistência científica há várias décadas. Entretanto, por muitos anos, permaneceu muito reduzido o número de grupos na área distribuídos por nossas Instituições de Ensino e Pesquisa. O crescimento global da importância das infecções causadas por fungos mudou radicalmente esse quadro. Esse novo quadro resultou num claro aumento da geração de conhecimento científico na área de Micologia Médica no Brasil, conforme ilustrado a seguir.

Em estudo recentemente desenvolvido em nosso laboratório por Priscila C. Albuquerque, estudante de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Instituto de Microbiologia da UFRJ, o crescimento da contribuição científica de Instituições brasileiras para a área de Micologia Médica foi claramente evidenciado. Usando como modelo as espécies patogênicas pertencentes ao gêneroCryptococcus, foi demonstrado que o Brasil saltou de uma contribuição limitada a 1% dos artigos científicos publicados no mundo em 1991 para cerca de 20% em 2010 [2]. Esses números colocam o país na segunda posição internacional no ranking de geração de conhecimento científico na área, atrás apenas dos Estados Unidos da América. O fato de que, na área Biomédica, o país é atualmente responsável por cerca de 2% das publicações científicas [3] torna clara a relevância da produção brasileira nessa subárea da Micologia Médica. Em áreas de aspectos científicos gerais como Bioquímica, Genética, Biologia Molecular, Medicina, Imunologia e Microbiologia, o Brasil tem produção científica internacional posicionada entre o 12º e 14º lugares [2], confirmando a posição prestigiada do país no campo de Cryptococcus e criptococose.

Embora o volume de conhecimento gerado por autores brasileiros na área tenha aumentado consideravelmente, esse ainda não é o perfil observado para o impacto de nossas descobertas. Nossos artigos científicos são menos frequentemente citados do que as publicações produzidas pela maioria dos países líderes na área [2]. A média de fator de impacto dos periódicos científicos onde nossos artigos são publicados é também consideravelmente inferior à observada para os artigos produzidos nos Estados Unidos, líderes na área [2]. Torna- se estimulante, portanto, procurar sedimentar a posição do país entre os líderes na área, enfrentando o desafio de buscar cada vez mais qualidade para o conhecimento científico gerado em nossas instituições.

Referências citadas:

1. Park BJ, Wannemuehler KA, Marston BJ, Govender N, Pappas PG, et al. (2009) Estimation of the current global burden of cryptococcal meningitis among persons living with HIV/ AIDS. AIDS 23: 525-530.
2. Albuquerque PC, Rodrigues ML (2012) Research trends on pathogenic Cryptococcus species in the last 20 years: a global analysis with focus on Brazil. Future Microbiology 7: 319- 329. 
3. Editorial (2011) Biomedicine in Brazil. Nat Med 17: 1169-1169.

escherichia coliPor Selma Soares de Oliveira

O mundo enfrenta atualmente vários problemas em relação a nutrição. Vários países, incluindo a África e algumas regiões do Brasil tentam resolver de alguma maneira a questão da fome através do aumento da produção de alimentos. Alguns grupos defendem a utilização de alimentos transgênicos, mais resistentes a pragas agrícolas e, portanto, mais fáceis para o cultivo de produção de alimentos, como uma das soluções para a fome no mundo. Existem ainda vários itens a serem considerados e comissões foram criadas para avaliar o uso de cada transgênico. Na agricultura tradicional, por sua vez, o uso de agroquímicos em altas concentrações tornou-se uma rotina bastante comum.

Porém, como resultado do mundo globalizado em que vivemos atualmente e da difusão de mais informações sobre os riscos à saúde, cresce hoje no mundo a busca por alimentos mais saudáveis, resultando numa procura por produtos orgânicos, buscando aproveitar vitaminas, sais e outros nutrientes através da ingestão de alimentos crus e minimamente processados.

Contudo, a comunidade científica e a sociedade vêm sendo surpreendida por relatos de surtos doenças de origem alimentar em diferentes regiões do mundo, especialmente na Europa, envolvendo vegetais, e muitas vezes têm sido surpreendida por bactérias anteriormente consideradas não patogênicas, que surgem com alto poder agressivo, podendo provocar lesões sérias e até a morte.

No Brasil, recentemente, o açaí foi implicado na transmissão de doença de Chagas, doença transmitida pelo protozoário Trypanosoma cruzi , como já aconteceu anteriormente em relação à cana-de açúcar, levando a uma discussão no meio científico em relação à forma de transmissão desta doença. Em ambos os casos haveria contaminação com fezes do inseto, conhecido como “Barbeiro” que teriam entrado em contato com a planta na sua fase de cultivo ou de armazenamento. Estes eventos, aliados aos recentes surtos de contaminação bacteriana veiculada por alimentos vegetais, evidenciam que é necessário maior atenção na forma da produção e armazenamento de alimetentos vegetais.

Uma cepa de E. coli que contaminou vegetais na Europa em 2011 foi causa de surtos de infecção envolvendo complicações de uma síndrome urêmica hemolítica. Esta bactéria apresentava mutações em relação às estirpes previamente descritas. Estirpes de E. coli do mesmo sorotipo seriam encontradas em bovinos e ovinos de forma assintomática. A fonte de contaminação, provavelmente, estaria relacionada com a fonte de irrigação daqueles vegetais.

Um aspecto importante a considerar é que, com o aumento da produção de vegetais orgânicos, normas e procedimentos de boas práticas agrícolas precisam ser observados de forma que cada manipulador do alimento, desde o campo até a mesa, seja treinado e observe estas normas, para evitar ou minimizar os riscos de contaminação. Por exemplo: que tipo de adubo vem sendo utilizado na produção destes alimentos? Qual a sua origem? Que tipo de tratamento recebe antes de sua utilização? Qual a fonte de água utilizada na irrigação? Qual o tratamento que estes vegetais recebem após a colheita? Onde e como são armazenados?

Falhas nas Boas Práticas agrícolas, aliadas à presença eventual de uma bactéria altamente contaminante no adubo, por exemplo- ou mesmo pela falta de cuidado adequado porparte dos agricultores podem ter conseqüências sérias no aparecimento de novos surtos de doenças de origem alimentar. É preciso, portanto, ampliar e divulgar as pesquisas na área de genética da virulência bacteriana. Paralelamente, é preciso incentivar a ampliação do uso de Boas Práticas Agrícolas nas fazendas produtoras de alimentos vegetais, através de treinamentos dos produtores agrícolas. É também necessário conscientizar o consumidor para que ele não consuma nenhum alimento cru sem a higienização adequada, evitando assim a formação de uma cadeia de transmissão e evitando o aparecimento de novos surtos.

ANVISA: http://www.anvisa.gov.br/alimentos/bpf.htm 
Manual de Boas Práticas para Agricultura Familiar - EMBRAPA: http://www.sa.df.gov.br/sites/100/148/00002062.pdf

bacteriaPor Raquel Regina Bonelli

Em janeiro de 2012, um artigo na BMC Microbiology assinado pelos renomados pesquisadores Liise-Anne Pirofski e Arturo Casadevall, trouxe de forma objetiva, concisa e clara uma reflexão sobre patogenicidade, avaliada sob o ponto de vista da microbiologia contemporânea. Os autores destacam que, apesar de originalmente a patogenicidade ter sido atribuída a fatores como a produção de cápsula ou de toxinas, hoje se sabe que para muitos patógenos não é possível identificar um fator chave determinante para a doença. De fato, as propriedades de patogenicidade estão também intrinsecamente ligadas ao hospedeiro.

Considerando que o sistema imune é capaz de conter e controlar muitas infecções, é óbvio que um hospedeiro debilitado tende a ser mais susceptível a doenças bacterianas. No entanto, é importante lembrar que uma vez que somos colonizados por inúmeras espécies de bactérias, a diferença entre ficar ou não doente pode estar nas condições em que se estabelece o contato entre o (potencial) patógeno e o hospedeiro. Neste contexto, o uso de antimicrobianos (que podem selecionar a microbiota) ou a exposição de áreas antes estéreis (como no caso de cirurgias ou do emprego de catéteres) são exemplos de fatores que criam condições para também um micro-organismo considerado não-patogênico levar a um quadro de doença no hospedeiro. Muitas vezes, não é nem mesmo algum fator produzido pelo micro-organismo diretamente e sim a resposta imune por ele induzida que leva ao dano.

Não por acaso, cada vez mais a palavra virulência faz parte do universo da microbiologia médica. Ao contrário do que pode parecer, esse termo não é intercambiável com patogenicidade. A patogenicidade é um conceito absoluto que determina se uma bactéria é ou não capaz de causar doença em um hospedeiro, enquanto a virulência é uma unidade contínua e se refere à intensidade do dano causado, podendo variar conforme a cepa ou o ambiente em que a interação com o hospedeiro se dá.

Assim, segundo os autores, tentativas de classificar micro-organismos como patógenos, não-patógenos, oportunistas ou comensais tendem a esbarrar sempre na imprevisível dinâmica que se estabelece entre o micro-organismo e o hospedeiro. A compreensão cada vez melhor dos processos de patogenicidade depende, portanto, da contínua aquisição de novos conhecimentos.

Fonte: Pirofski, L.-A. & Casadevall A. What is a pathogen? A question that begs the point. BMC Biology 10:6, 2012

Leia mais em: Casadevall, A; Fang F. C. & Pirofski L.-A. Microbial virulence as an emergent property: consequences and opportunities. PLoS Pathog 7:e1002136, 2011.

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