Por Rafael Duarte
O controle global da tuberculose é dificultado por características próprias do agente etiológico Mycobacterium tuberculosis(MTB), o qual exibe um tempo de geração lento em meios de cultura sólidos. O diagnóstico precoce, fundamental para controle de qualquer doença infecciosa transmissível, é prejudicado também pela existência de métodos diagnósticos com baixa sensibilidade, particularmente na detecção da resistência a antimicrobianos e em pacientes com imunodeficiência. A complexidade dos métodos para diagnóstico laboratorial da tuberculose, os altos custos para métodos avançados com tempo de detecção menor e a necessidade de infraestrutura especializada, limitam o acesso e os efeitos diretos das medidas para controle da doença. Em países em desenvolvimento, devido à restrição de recursos em diferentes regiões, o diagnóstico ainda se baseia predominantemente na baciloscopia, caracterizada pela baixa sensibilidade.
Dentre as novas metodologias que aceleram o diagnóstico, aquelas envolvendo diagnóstico molecular avançado para tal finalidade, como Real-Time PCR, têm sido descritas como possíveis soluções para o controle da doença no mundo. Um dos métodos mais destacados, em fase de aplicação nos países em desenvolvimento, é o denominado Xpert MTB/RIF, comercializado pela empresa Cepheid. Tal metodologia consiste em um teste molecular para detecção de MTB e da presença de mutação que indique resistência a rifampicina diretamente a partir do escarro em um período máximo de somente 2h. Tal avanço envolve aplicação de equipamentos com pouca exigência de infraestrutura e espaço, além de um cartucho contendo todos os compartimentos e constituintes necessários para a extração de ácido desoxirribonucléico, reação de polimerização em cadeia e outros. Os estudos, até então realizados em países como Peru, África do Sul e Índia, indicam detecção de 98,2% dos pacientes com baciloscopia positiva e um aumento de 12,6% na detecção em pacientes com baciloscopia negativa. Estudos estão sendo realizados também no Brasil, inclusive no Laboratório de Micobactérias do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes. Dispomos de infraestrutura adequada para diagnóstico de tuberculose pulmonar ativa e estamos desenvolvendo colaboração com pesquisadores renomados do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho em estudos internacionais relacionados a ensaios clínicos para novos esquemas de tratamento da tuberculose. Com possíveis bons resultados e avanços nos investimentos em saúde, esperamos que o acesso a tais tecnologias possa chegar às unidades de diagnóstico de todo o país e favorecer toda a população para o efetivo controle da tuberculose no Brasil.
Leitura recomendada:
1: Miller MB, Popowitch EB, Backlund MG, Ager EP. 2011.Performance of Xpert MTB/RIFRUO Assay and IS6110 Real-Time PCR for Mycobacterium tuberculosis Detection inClinical Samples. J Clin Microbiol.
Link para o resumo: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21849695
2: Blakemore R, Nabeta P, Davidow AL, Vadwai V, Tahirli R, Munsamy V, Nicol M,Jones M, Persing DH, Hillemann D, Ruesch-Gerdes S, Leisegang F, Zamudio C,Rodrigues C, Boehme CC, Perkins MD, Alland D.2011. A Multi-Site Assessment of the Quantitative Capabilities of the Xpert(R) MTB/RIF Assay. Am J Respir Crit Care Med.
Link para o resumo: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21836139
Por Davis Ferreira e Luciana B. de Arruda
Entre os dias 19-21 de Setembro aconteceu no Hotel Intercontinental no Rio de Janeiro o Seminário Internacional de Dengue, que faz parte da campanha Rio Contra Dengue 2011/2012.
Lá estiveram presentes autoridades representantes do Governo, estado e município, com mais de 50 Prefeitos de municípios do Rio de Janeiro. Foram discutidas as estratégias do Governo para minimizar os efeitos de uma possível epidemia que poderá chegar em breve ao estado, assim como enfatizar a necessidade do engajamento e responsabilidade dos Prefeitos nesta luta. O indício de uma grande epidemia no verão de 2012 se deve, principalmente, a alguns fatos intensamente discutidos. Em primeiro lugar, a circulação do sorotipo 1 da dengue, com grande parte da população mais jovem susceptível à infecção. Em segundo lugar, a detecção recente da circulação da dengue tipo 4 em Niterói, ao qual praticamente toda a população está suscetível, gerando grande preocupação, caso o sorotipo se alastre pelo estado. Em terceiro lugar, os altos índices de infestação do vetor Aedes aegypti circulando por todo o estado do Rio. Existe grande expectativa em relação ao desenvolvimento de uma vacina contra dengue, entretanto, apesar de alguns testes clínicos estarem em fases avançadas, os mais otimistas falam em cerca de 5 anos até a implantação de uma vacina eficaz. Além disso, no caso de uma vacina bem sucedida, discute-se as dificuldades para obtenção e produção suficiente para cobrir toda a população. Paralelamente, alguns grupos têm estudado o efeito de substâncias com potencial atividade antiviral, que parece ser outro caminho promissor na batalha contra essa infecção. Enquanto tudo isto não acontece, temos que focar em alguns aspectos principais. Primeiramente, não podemos ter o número de óbitos que temos no Brasil. O óbito por dengue deve ser raro, e temos que nos empenhar para isto. Para que isso aconteça, precisamos não apenas treinar o trabalhador da área da saúde, mas também dar condições físicas e de logística para que o atendimento de qualidade seja realizado. A dengue é uma doença traiçoeira, às vezes, mesmo quando o paciente se sente bem, com a baixa da febre, é quando a doença pode evoluir rapidamente para o óbito. Temos também que manter as campanhas na mídia. Um estudo mostrou que a maioria das pessoas culpa o quintal do vizinho pelo alto índice de mosquitos em sua casa. Isso mostra que muito ainda precisa ser mudado quanto à educação da população em relação ao combate à dengue. Alguns cuidados devem ser enfatizados quanto à prevenção de focos do vetor:
1. Manter a caixa d'água totalmente vedada e virar os baldes com a boca para baixo;
2. Remover folhas, galhos e tudo que possa acumular água nas calhas;
3. Galões, toneis, poços, tambores e barris de água para consumo devem ser totalmente vedados;
4. Guardar os pneus sem água e em lugares cobertos. Garrafas devem estar vazias e sempre com a boca para baixo;
5. Manter ralos limpos e com uma tela para não formar criadouros;
6. Verificar se as bandejas de ar-condicionado estão limpas e sem acúmulo de água. Bandejas de geladeira também podem se tornar criadouros para o mosquito;
7. Encher e verificar semanalmente vasos sanitários fora de uso ou de uso eventual;
8. Esticar bem as lonas usadas para cobrir objetos ou entulho para não formar poças d'água;
9. Limpar e tratar piscinas e fontes com produtos químicos específicos;
10. Plantas como bambu, bananeiras, bromélias, gravatás, babosa, espada-de-são-jorge e outras semelhantes também podem acumular água.
(Fonte: Ascom SES)
Nós, do Instituto de Microbiologia, estaremos nos empenhando e fazendo nossa parte, principalmente na área da educação de nossos alunos, no sentido de propagar o conhecimento e formar combatentes nesta guerra contra a dengue.
Essa semana haverá ainda, em Minas Gerais, o encontro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Dengue (INCT DEN), do qual fazem parte professores e pesquisadores do IMPG, diretamente associados a outros grupos de pesquisa em dengue no país. Acreditamos assim que o esforço contínuo para o desenvolvimento de pesquisa básica na área, no intuito de caracterizar células-alvo da infeção, as alterações celulares e moleculares que ocorrem no hospedeiro, e como a resposta do hospedeiro participa no controle ou exacerbação da doença sejam essenciais para a descoberta de novos alvos terapêuticos e desenvolvimento de vacinas eficientes.
Por Camila M. Adade,, Isabelle R.S. Oliveira, Joana A.R. Pais, Thaïs SoutoPadrón
Laboratório de Biologia Celular e Ultraestrutura, Departamento de Microbiologia Geral, Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Centro de Ciências da Saúde, bloco I, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biologia Estrutural e Bioimagens, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Peptídeos antimicrobianos constituem um grupo que tem sido pesquisado como novas substâncias com rápida ação antimicrobiana, com baixa probabilidade de desenvolvimento de resistência, podendo atuar em conjunto com drogas já existentes. Estudos demonstram que estes peptídeos exibem forte atividade inibidora contra bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, fungos, vírus, parasitas metazoários e outros , como o protozoário Leishmania spp. Neste estudo, a melitina um peptídeo isolado do veneno da abelha Apis mellifera foi utilizado. Foi demonstrado que a melitina tem forte ação contra o parasito Trypanosmoa cruzi, afetando as formas evolutivas do parasito e levando a múltiplos efeitos. Nas formas epimastigotas tratadas, foi observado a morte celular autofágica como principal mecanismo de morte. Em contraste, nas formas tripomastigotas o mecanismo apoptótico foi a via de morte celular programada encontrada. Diante destes resultados, a melitina surge com grande potencial para o desenvolvimento de novas drogas para doenças negligenciáveis com a Doença de chagas.
Melittin peptide kills Trypanosoma cruzi parasites by inducing different cell death pathways
Por Camila M. Adade,, Isabelle R.S. Oliveira, Joana A.R. Pais, Thaïs SoutoPadrón,
Laboratório de Biologia Celular e Ultraestrutura, Departamento de Microbiologia Geral, Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Centrode Ciências da Saúde, bloco I, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ 21941-590, Brazil Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biologia Estrutural e Bioimagens, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ilha do Fundão,Rio de Janeiro, RJ 21941-590, Brazil
Antimicrobial peptides (AMPs) are components of the innate immune response that represent desirable alternatives to conventional pharmaceuticals, as they have a fast mode of action, a low likelihood of resistance development and can act in conjunction with existing drug regimens. AMPs exhibit strong inhibitory activity against both Gram-positive and Gram-negative bacteria, fungi, viruses, metazoans and other parasites, such as the protozoan Leishmania. Melittin is a naturally occurring AMP, which comprises 40–50% of the dry weight of Apis mellifera venom. Our group has recently shown that crude A. mellifera venom is lethal to Trypanosoma cruzi, the Chagas disease etiologic agent, and generates a variety of cell death phenotypes among treated parasites. Here, we demonstrate that the melittin affected all of T. cruzi developmental forms, including the intracellular amastigotes. The ultrastructural changes induced by melittin suggested the occurrence of different programmed cell death pathways, as was observed in A. mellifera-treated parasites. Autophagic cell death appeared to be the main death mechanism in epimastigotes. In contrast, melittin-treated trypomastigotes appeared to be dying via an apoptotic mecha nism. Our findings confirm the great potential of AMPs, including melittin, as a potential source of new drugs for the treatment of neglected diseases, such as Chagas disease.
Referencia: Toxicon (2013) 1–13