A Sociedade Brasileira de Microbiologia lamenta profundamente a morte do Prof. Luiz Rodolpho Raja Gabaglia Travassos, da Universidade Federal de São Paulo, aos 82 anos, no dia 30 de julho de 2020.
O Professor Travassos, como era amplamente conhecido, teve papel único no crescimento das Ciências Biomédicas no Brasil. Nos cargos que ocupou em sua frutífera carreira, sempre desempenhou com brilhantismo o papel de impulsionador da ciência brasileira, à qual trouxe ampla visibilidade internacional. Foi Professor Titular nas Universidades Federais do Rio de Janeiro e de São Paulo, além de ter ocupado posições de liderança na CAPES e no CNPq. Teve passagens de grande destaque como Professor Visitante na Columbia University e no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center (Nova York, EUA). Membro titular das Academias Brasileira de Ciências e Americana de Microbiologia, e honorário da Academia Nacional de Medicina, recebeu as mais diversas honrarias científicas, incluindo as medalhas de Comendador e da Gran-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. A Microbiologia era parte dos genes do Professor Luiz Travassos: era filho de Joaquim Travassos da Rosa, primeiro presidente da SBM.
O legado deixado pelo Professor Luiz Travassos para a ciência brasileira é de difícil mensuração. Produziu contribuições pioneiras para as áreas de Microbiologia, Micologia, Parasitologia, Imunologia e, mais recentemente, Oncologia. Seus 263 artigos científicos publicados e mais de 10 mil citações certamente falam muito sobre sua capacidade científica. Entretanto, a contribuição do Professor Travassos para a ciência do Brasil pode ser melhor compreendida através dos vários cientistas que formou diretamente e que hoje ocupam posições de destaque no Brasil e no exterior. O Professor Travassos foi, inquestionavelmente, responsável pela criação de uma escola científica que contribuiu com a transmissão de conhecimento científico através de várias gerações no Brasil.
A SBM lamenta a enorme perda para a comunidade científica do país e deseja que sua carreira brilhante sirva como inspiração para os microbiologistas do Brasil.
Hoje estamos celebrando uma grande conquista para o Programa de Pós-graduação em Ciências (Microbiologia), do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes! Acaba de ser publicado, na conceituadíssima revista Cell, o artigo Structural and proteomic characterization of the initiation of giant virus infection, que contou com a participação da Professora Juliana Cortines, docente permanente do programa, como uma das autoras correspondentes. Os vírus gigantes têm sido descobertos em locais mais misteriosos (inexplorados) do mundo, como por exemplo, sob as camadas de gelo da Antártica, Rio Amazonas, oceanos profundos, etc. Porém, pouco conhecemos ainda sobre tais vírus. O trabalho, realizado em uma colaboração multicêntrica (Dr. Jônatas Abrahão, Universidade Federal de Minas Gerais; Dra. Juliana Cortines, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dr. Jason Schrad e Dra. Kristin Parent, Michigan State University), esclarece, pela primeira vez na literatura científica, como os vírus gigantes iniciam e estabelecem o ciclo infeccioso em amebas. Para elucidar esse processo, os pesquisadores lançaram mão de diversas técnicas de microscopia (crio-eletromicroscopia, crio-eletrotomografia e microscopia eletrônica de transmissão) e espectrometria de massas. Através dessas estratégias foi possível isolar quatro intermediários estruturais dos capsídeos virais. Essas espécies de vírus apresentam um mecanismo único para infectar o hospedeiro, e este mecanismo exclusivo é conhecido como stargate, que envolve, mais precisamente, a região no capsídeo viral que libera os fatores iniciadores de infecção e, posteriormente, o genoma viral. Tais pesquisadores descobriram alguns sinais ambientais (baixo Ph, alta temperatura e elevada concentração de sais) que levam à abertura do stargate e mais, observaram que cada condição induzia um estágio diferente do processo. Ao simularem condições que o vírus poderia encontrar durante o processo infeccioso demonstraram o momento da abertura do stargate. Assim, através das poderosas ferramentas utilizadas, os autores , além de estudar o vírus e a estrutura de suas proteínas, em nível atômico, eles ainda capturaram o vírus em ação.
É a ciência brasileira fazendo parte de grandes descobertas!
O estudo Structural and Proteomic Characterization of the Initiation of Giant Virus Infections, foi publicado na revista científica Cell em 08 de março de 2020. Para ler o artigo, clique AQUI.
Para todos da comunidade do IMPG
Recebemos uma triste notícia comunicando o falecimento do Prof. Raimundo Diogo Machado no dia 02 de maio de 2020.
O Prof. Machado era um exemplo de dedicação, de carinho a Instituição, de competência no ensino e na pesquisa em Virologia e, mais que tudo, um homem íntegro, com posições firmes e muitas vezes rudes, mas com um coração enorme, dono de uma sensibilidade humana que encantava.
Tive a grande honra de ser aluno do Prof. Machado na Pós Graduação, durante o Mestrado, e depois de sermos colegas docentes por muitos anos. Quando, em 1993, ele assumiu o cardo de Diretor do IMPG. Devido à aposentadoria do Prof. Cesar Martins de Oliveira, fui convidado para ser o seu Vice-Diretor.
Durante a sua gestão, incentivou e apoiou fortemente a criação do nosso Curso de Bacharelado em Microbiologia e Imunologia, primeiro do gênero na América Latina e que teve a sua turma inaugural já em 1994.
Quando estive na Direção do Instituto, de 1994 a 1998, o Prof. Machado me deu um enorme apoio e orientações precisas. Foi devido ao seu trabalho e dedicação, que conseguimos instalar o cabeamento da rede de internet do Instituto, para a qual ele teve um papel preponderante. Como não havia verba para serviços, ele mesmo se ocupou de passar muitas horas no telhado e na laje do instituto perfurando e instalando tudo.
Teria muito ainda a dizer, mas sei que vários amigos farão depoimentos também.
Vá em paz Prof. Machado, nós todos da comunidade do IMPG agradecemos muito pela sua dedicação a todos.
Aos familiares, esposa filhos (Sérgio, Thais) nossos pêsames por esta perda irreparável.
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Alguns depoimentos sobre o professor Machado:
“Pilar da Virologia no país, com grande relevância acadêmica foi professor, pesquisador, diretor do IMPPG, membro de sociedades e de comitês científicos. Orientou inúmeros alunos, ministrou muitas palestras, criou cursos e sempre manteve a simplicidade dos verdadeiros sábios, na orientação aos alunos, tirando dúvidas de colegas, ou pondo a mão na massa, quer no fluxo, ou em atividades extras, dignas do “Magaiver” como eletricista, encanador, vigia, instalador de aparelhos e até limpeza, após incêndios e desabamentos ocorridos nas instalações do Departamento de Virologia, onde tive o grande privilégio de ser sua aluna, colega, vice-chefe, chefe e chefiada. Na sua espontaneidade, podia parecer rude, mas o altruísmo era um traço forte que o distinguia, reconhecido por todos que o conheceram. Difícil expressar, em poucas linhas, minha admiração por ele e a gratidão a Deus por esse convívio enriquecedor. RIP caro Mestre !! (Dra. Maria Isabel M. Liberto - Universidade Federal do Rio de Janeiro)
“Tive meu primeiro contato com a Virologia através do Professor Raimundo Diogo Machado. Tive também a satisfação de tê-lo como orientador de Mestrado. Ele tinha uma forma muito prática e particular de vivenciar e transmitir conhecimento sobre os vírus, tendo participado diretamente na formação de diversos virologista brasileiros. O Prof. Machado tinha verdadeira paixão pelo Departamento de Virologia e pelo Instituto de Microbiologia, ambos da UFRJ. Mas, acima de tudo, era um ser humano sensível e de padrões morais elevados.” (Dr. Edson Elias Silva - Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz).
“Com muito pesar lamento a morte do Prof. Raimundo Diogo Machado, pelo qual mantenho eterna gratidão. Ele foi meu orientador no mestrado e no doutorado. Junto com a Dona Lícia Lisboa Machado foram meus padrinhos de casamento, dando início a uma amizade fraterna e familiar que forjamos ao longo dos anos de convivência. Como professor, ele se caracterizava pela personalidade marcante, alicerçada na espontaneidade e no caráter proativo. Dessa espontaneidade, falava prontamente o que sentia, sem rodeios, fruto da brilhante inteligência emocional que detinha. Como proativo, antecipava-se aos problemas do cotidiano e deixou sólida contribuição para nossa Instituição, quer no aspecto acadêmico, com trabalhos de ampla abrangência, em colaboração com seus orientandos, quer no administrativo. Neste último, chegou até ao cargo de Diretor. Como legado do mandato, foi criado o Curso de Graduação em Microbiologia e Imunologia, ampliando assim o escopo de ensino de nossa instituição. Base para a consolidação da pós-graduação e abertura de oportunidade para jovens estudantes ingressarem em uma nova Faculdade da UFRJ. Como orientador, o Prof Machado sempre depositou plena confiança e responsabilidade em seus orientandos, condição esta que proporcionava a produção de trabalhos relevantes na Virologia e áreas afins. O laboratório dele era multiversátil e colaborativo com todos que o procuravam em busca de ajuda. Com estas palavras, reafirmo meu reconhecimento ao legado profissional deixado pelo Prof. Machado, com o sentimento de gratidão e a certeza de que ele descansou das limitações físicas que o mantiveram preso nos últimos anos, seguindo agora para os braços de Deus, no mundo espiritual.” (Dr. Maulori Curié Cabral – Universidade Federal do Rio de Janeiro).
“O Prof. Machado, assim como era carinhosamente chamado por todos nós, sempre foi uma pessoa simples e direta em sua fala e maneira de se expressar. Um coração enorme! Muitos dos profissionais que hoje estão trabalhando na linha de frente no combate à COVID-19 tiveram pelo menos parte de sua formação com o prof. Machado. Suas contribuições para a Virologia brasileira são enormes! Uma perda inestimável tanto do exemplo profissional quanto da pessoa que nos deixará muitas saudades!” (Dr. José Paulo G. Leite, Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz).
“Raimundo Diogo Machado, mais conhecido como Dr. Machado, veio ao mundo com a responsabilidade de ensinar e formar pessoas, principalmente na sua área de conhecimento, a microbiologia. E com sua simplicidade, objetividade e ética cumpriu com excelência esta missão. Sou muito agradecido ao destino, por ter me colocado no caminho deste mestre, que com apoio e incentivo constante contribui de forma fundamental na minha caminhada profissional. Com certeza, para sua chegada o céu preparou uma bela recepção. Que Deus o tenha e descanse em paz.” (Dr. Eduardo C. Leal - afilhado, amigo e aluno-, Fiocruz).
"O Prof. Raimundo Diogo Machado era uma pessoa especial para todos que o conheceram, deixou uma herança de muito trabalho e dedicação ao Departamento de Virologia e ao Instituto de Microbiologia, tendo sido sócio fundador da Sociedade Brasileira de Virologia." (Dr. José Nelson Couceiro – Universidade Federal do Rio de Janeiro).
“O Prof Machado ajudou a construir a história da Virologia no Rio de Janeiro, orientou teses nos mais variados temas da área colaborando com a formação de muitos professores/pesquisadores. O jeito sincero e acolhedor do Prof. Machado permanecerá na memória de todos que tiveram a oportunidade de conviver com ele.” (Dra. Rita de Cassia N. Cubel – Universidade Federal Fluminense)
“Falar de Dr. Machado é difícil. Ao mesmo tempo é muito leve e feliz! Dizer que mesmo conhecendo ele em 1979, tendo feito o mestrado em bactérias anaeróbias, quando fiz a especialização em Microbiologia e Imunologia, ele sempre se mostrou um excelente professor. Competente, super profissional e disposto a ajudar qualquer aluno que o procurasse, sempre estava pronto para tirar dúvidas. Via-se claramente que o interesse dele era que a formação do aluno fosse a melhor possível e que sentisse orgulho do Instituto de Microbiologia. Uma perda para a ciência e para o ensino do Brasil.” (Dr. Antônio Eugenio de Almeida – INCQS/Fiocruz).
