Por Rodrigo Graça
Aluno do curso de graduação em Ciências Biológicas Microbiologia e imunologia, 8º período.
Matéria escrita na disciplina de extensão de integração acadêmica do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas: Microbiologia e Imunologia. Creditação da extensão no Instituto de Microbiologia.
A microbiota residente tem um papel fundamental no para a manutenção e saúde do organismo. Durante o nascimento, o bebê vem de um ambiente estéril e entra em contato com uma variedade de microrganismos que irão colonizar suas superfícies e desempenhar diversas funções. O contato inicial com essa microbiota estimula o desenvolvimento das funções do trato gastrointestinal, dos movimentos peristálticos, além de auxiliar na degradação de polissacarídeos e a ocupação desse nicho que impede a colonização por microrganismos patogênicos. Mas quando se trata do sistema imune, os microrganismos colonizadores atuam como indutores da maturação de todo o sistema imune, e assim torna-se capaz de reconhecer patógenos e desenvolver uma resposta protetora contra eles, enquanto também adquire uma tolerância ao que ao inócuo, como alimentos e microrganismos comensais.
Dessa forma o contato inicial com microrganismos colonizadores durante o nascimento tem um impacto na saúde do bebê a curto e longo prazo. Vários estudos recentes correlacionam o tipo de parto com a composição da sua microbiota e o perfil do sistema imune. Assim bebês que passam sobre o parto normal tem uma microbiota mais parecida com a mãe, uma vez que nesse tipo de parto o bebê entra em contato com a flora vaginal da mãe. Enquanto o parto por cesariana altera esse contato inicial muda completamente o perfil da microbiota do bebê, pesquisas recentes vêm correlacionando o aumento de doenças autoimunes nas últimas décadas com o aumento de partos por cesariana.
Em contrapartida o sistema imune tem várias formas de manter uma relação simbionte com a microbiota e obter vários benefícios. Essa comunicação permite tornar o sistema imune equilibrado, apresentando a mesma qualidade e quantidade de populações de células do sistema imune de um indivíduo saudável. Porém o uso exagerado de antibióticos, alterações na dieta e até a escolha do tipo de parto podem impactar negativamente nessa comunicação entre o hospedeiro e a sua microbiota. Esses hábitos vêm sendo propostos para explicar a recente elevação no aparecimento de doenças autoimune e doenças inflamatórias nas últimas décadas.
Deste modo, o papel dos microrganismos para a manutenção da saúde vem se estabelecendo cada vez mais, e se tornando um tema de estudo de imensa relevância na comunidade científica.
Referências
- Belkaid, Y., & Hand, T. (2014). Role of the Microbiota in Immunity and Inflammation. Cell, 157(1), 121-141. doi:10.1016/j.cell.2014.03.011
- Tamburini, S., Shen, N., Wu, H. C., & Clemente, J. C. (2016). The microbiome in early life: implications for health outcomes. Nature Medicine, 22(7), 713-722. doi:10.1038/nm.4142
- https://brasil.elpais.com/brasil/2016/01/31/ciencia/1454272243_960766.html
- https://estilo.uol.com.br/gravidez-e-filhos/noticias/redacao/2013/03/04/cesarea-e-falta-de-aleitamento-afetam-flora-intestinal-do-bebe.htm