Ulysses Garcia Casado Lins concluiu o Bacharelado em Genética na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1991 e seguiu a carreira científica fazendo mestrado (1993) e doutorado (1997) no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ sob a orientação do Professor Marcos Farina. Aos 27 anos tornou-se professor do departamento de Microbiologia Geral do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes (IMPG) da UFRJ. Dentre as várias disciplinas lecionadas, aquelas sobre microscopia óptica e eletrônica sempre foram suas preferidas, sendo inegável o seu entusiasmo ao falar sobre o assunto. Desse amor à microscopia surgiram diversas colaborações com grupos nacionais e internacionais, sendo frequentes as visitas ao laboratório do Dr. Bechara Kachar no National Institutes of Health (EUA) seu supervisor de pós-doutoramento na década de 1990, e com quem manteve forte vínculo científico, e, posteriormente, do Dr. Dennis Bazylinski na University of Nevada, Las Vegas (EUA) em 2011 e 2013.
Em 2002, Ulysses fundou o Laboratório de Biologia Celular e Magnetotaxia no Instituto e continuou atuando no setor de microscopia eletrônica de transmissão do IMPG. Obcecado pela perfeição, o Professor Ulysses Lins fez uma carreira de sucesso, sendo reconhecido internacionalmente pelo seu excelente trabalho no estudo da ultraestrutura de bactérias magnetotáticas.
Fases marcam sua carreira científica
A primeira, relacionada ao seu doutorado e pós-doutorado, quando trouxe contribuições fundamentais para a descrição de algumas características especiais dos microrganismos magnetotáticos, abrindo caminho para o interesse de diversos pesquisadores nesta área. Citamos aqui duas linhas marcantes: a descrição de cristais de magnetita com dimensões maiores do que os valores teóricos para monodomínios magnéticos, objeto de estudos por holografia eletrônica com participação do Ulysses, mostrando que a organização dos cristais em cadeias lineares faz com que se comportem como monodomínios magnéticos – trabalhos em colaboração com Molly MacCartney (Arizona State University), Richard Frankel (Cal POly –USA), Dennis Bazylinski (University of Nevada, Las Vegas) e Marcos Farina (UFRJ). Outra linha relaciona-se à descrição de características de um organismo multicelular bacteriano. Ulysses foi precursor no assunto, tendo realizado a primeira observação de que os organismos multicelulares magnetotáticos aumentavam seu volume não pelo aumento do número de células, mas pelo aumento do volume individual das células presentes. Mais tarde, foi proposto um modelo para a divisão celular atípica deste microrganismo pelo grupo (Ulysses, Henrique Lins de Barros, Carolina Keim, Fernanda Abreu, Farina) baseado naquela hipótese.
A segunda fase da carreira do Ulysses Lins foi totalmente desenhada por ele e seus alunos. Esta fase corresponde aos aspectos ambientais, ultraestruturais, ecológicos e filogenéticos dos microrganismos magnetotáticos. Aqui foi possível para a comunidade científica verificar que o laboratório fundado por ele teve uma ascensão sólida com trabalhos originais e de peso, incluindo capas de revistas conceituadas na área. Sua participação como coordenador ou coautor em trabalhos fundamentais na área de pesquisas em microrganismos magnetotáticos foi marcante, incluindo contribuição original sobre microrganismos provenientes da região Antártica.
Ulysses tinha experiência na área de Microbiologia Geral e Ambiental atuando principalmente na evolução de microrganismos magnetotáticos, biomineralização e biomateriais, diversidade e ecologia microbiana, multicelularidade bacteriana, e produção de nanopartículas de origem microbiana. Em toda sua carreira, o Professor Ulysses publicou 96 artigos em revistas científicas internacionais com reconhecido impacto no meio acadêmico, orientou 11 monografias de final de curso de Graduação, 11 dissertações de mestrado, 8 teses de doutorado, 7 supervisões de pós-doutorado, e alcançou o cargo de titular aos 47 anos. Sua presença nas atividades do IMPG sempre foi muito marcante para todos os envolvidos. Por toda sua dedicação, exigência e generosidade, o Professor Ulysses será sempre lembrado com admiração e respeito por seus alunos e colegas.
“Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação de vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha cobardia”.
Livro do Desassossego, 1982.
Fenando Pessoa