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10 07 Microbiologia Graduacao seugato

Por Bruno Marques Vieira, Daniela Masid de Brito, Rebeca de Souza Brum, Manuella Lima, Elizabeth Chen Dahab, Renato Nunes Ferreira. Matéria escrita na disciplina de extensão de integração acadêmica do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas: Projeto de extensão: SAÚDE É NOTÍCIA - OFICINA DE REDAÇÃO CIENTÍFICA Divulgação - Crítica - Síntese. Creditação da extensão no Instituto de Microbiologia.

Ninguém duvida dos benefícios que os animais de estimação, como os cães e os gatos, podem trazer ao ser humano.  Porém será que eles podem estar proporcionando aos seres humanos algo menos desejável que afeto e companheirismo? além de amor e companheirismo eles podem estar nos dando algo menos desejável?

Cientistas como o Dr. Jaroslav Flegr, biólogo da Charles University em Praga, acreditam que um parasita unicelular – o Toxoplasma gondii – que pode contaminar seres humanos a partir do seu hospedeiro definitivo, o gato doméstico - poderia ser o responsável pelo comportamento alterado de alguns indivíduos.

O ciclo de vida do Toxoplasma gondii passa pelo organismo do gato, sendo liberado em suas fezes, onde encontra outros hospedeiros, como ratos, cães e humanos. O Toxoplasma gondii é o responsável pela toxoplasmose, que é importante em saúde humana, pois está associado a lesões do cérebro, do sistema visual e do sistema auditivo, em recém-nascidos de algumas mães infectadas; a toxoplasmose, e especialmente sua forma predominantemente cerebral, são encontradas também em pacientes infectados pelo HIV, que desenvolvem imunodeficiência adquirida (AIDS) na fase avançada da infecção.

Em humanos, a toxoplasmose é contida pelo sistema imune, tornando-se uma grave ameaça em pessoas com a imunidade enfraquecida, como pacientes com AIDS. Na gravidez ele é motivo de preocupação, se a imunidade contra o parasito não estiver ainda consolidada, o que pode ocorrer nas infecções recentes (ou seja, aquelas em que o primeiro contato com o parasito ocorreu durante a gravidez, ou imediatamente antes dela).  Nessa janela de suscetibilidade a transmissão do parasito através da placenta pode levar à contaminação do feto, resultando em lesão cerebral, cegueira, surdez congênita e até à morte.

Em gatos – e humanos – normais a toxoplasmose é assintomática, e seu diagnóstico é feito detectando anticorpos específicos contra o parasita no soro. Caso o diagnóstico seja positivo para toxoplasmose, o veterinário – ou médico – normalmente trata a infecção com antibióticos.

Recentemente o Dr. Flegr vem chamando a atenção do público para a possibilidade de que o comportamento humano também seja influenciado pelo Toxoplasma gondii de forma atípica, ou seja, distinta desses quadros bem-caracterizados. A ideia de que o Toxoplasma gondii pode influenciar o comportamento humano veio de estudos que mostram que este mesmo parasita influencia o comportamento do rato, um de seus hospedeiros intermediários.

Ao infectar o rato, o Toxoplasma gondii altera a reação primordial dos ratos à presença de gatos no seu ambiente, que é de aversão, convertendo-a numa atração. Ratos infectados com Toxoplasma gondii também se tornam muito mais ativos, aumentando as chances de que venham a ser detectados pelos gatos. Como exemplo de evidência experimental em apoio a esta hipótese, podemos citar experimentos recentes. Nestes, ratos com toxoplasmose foram expostos a uma variedade de odores distintos em sua gaiola, sendo avaliada a sua atração ou aversão a cada odor. Ratos saudáveis demonstram total aversão ao odor da urina de gato; já os ratos com toxoplasmose demonstraram ser atraídos por esse mesmo odor.

Análises da infecção pelo Toxoplasma gondii em ratos mostrou uma concentração de cistos (uma forma de resistência do parasito, que lhe permite contornar a resposta imune) em áreas no cérebro de ratos responsáveis pelas reações emocionais de prazer e recompensa, por um lado, e de medo, por outro lado. Esse achado morfológico (ao microscópio) está de acordo com evidência funcional, pois o Toxoplasma gondii também tem sido associado ao aumento da produção local de dopamina, um neurotransmissor envolvido no sistema de recompensa do cérebro, que por sua vez responde tanto aos estímulos que causam prazer (atraentes) como aos que causam medo (aversivos).

Estudos em humanos focalizando essas alterações de comportamento estão sendo realizados, porém ainda sem conclusões óbvias. Um dos problemas que se apresentam ao pesquisador é a dificuldade de definir o fenômeno (alteração do comportamento) que se supõe estar sendo induzido pela toxoplasmose, e que deve ser observado de forma reprodutível, para poder definir sua relação com a infecção. Sinais e sintomas neurológicos são numerosos, variáveis e muitas vezes se confundem uns com os outros, ou com achados que podem ocorrer também em indivíduos normais, ou em portadores de outras doenças. (Não há um padrão absolutamente definido (patognomônico) de manifestações neurológicas e psiquiátricas) que só ocorra em indivíduos com toxoplasmose.

Por outro lado, a frequência de toxoplasmose é muito elevada e pode chegar a 60% em alguns países. Não há evidência de que 60% da população desses países sofram de problemas neurológicos e/ou psiquiátricos. Assim, para que a hipótese seja válida para seres humanos, seria preciso especificar que nem toda pessoa infectada apresentará tais manifestações, ou seja, que as pessoas com esses problemas são uma subpopulação de indivíduos diferente da maioria, por razões que desconhecemos. Muitas outras variáveis devem ser consideradas nesses estudos – cotidiano, alimentação, ambiente de trabalho e familiar – para se concluir por um efeito direto da toxoplasmose e excluir outros fatores de risco.

O controle de comportamento de animais complexos (vertebrados superiores) por parasitas é algo que só recentemente tem chamado a atenção, embora com invertebrados e seus parasitas haja um grande número de estudos sustentando essa hipótese. Outro exemplo conhecido é o do vírus da Raiva. Ao infectar seu hospedeiro, no sistema nervoso, induz comportamento agressivo, ao mesmo tempo em que migra para as glândulas salivares, onde garante que, caso o hospedeiro morda outro organismo, possa propagar a infecção.

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